Laboratórios e redes desde uma perspectiva das comunidades – Comunidades desde uma perspectiva de laboratórios em rede.
LabSurLab pode ser compreendido como “metáfora e prática” de “formação e trabalho” em rede. As identidades envolvidas – representando ativistas, estados, empresas – empregaram uma dinâmica capaz de desenhar um discurso um tanto esquecido pelas políticas públicas, em especial propagado pelas instituições de ensino: a interdisciplinaridade.
Nos seminários, mesas redondas, mesas de trabalho e oficinas. O que se via eram autênticos espaços discursivos/práticos: meio ambiente, política, artes, física, elétrica e química, tudo concebido como ciência. Desde a perspectiva dos laboratórios, o importante é dominar estes “códigos”.
LabSurLab apresenta o subtítulo “tenemos los medios”. Desde logo é colocado um paradoxo, um desafio e claro, a reinterpretação de conceitos. Os participantes que estavam ali tinham uma postura bem clara: “Somos nós os meios!”.
Intertítulo
Os laboratórios devem ser capazes de envolver e articular uma gama de identidades e entidades para alcançar modos operativos diversos – de organização, planejamento, produção e difusão – e alheios às práticas dos centros de poder ou dos já consolidados meios de comunicação. Entendendo que assembléias, concertos/shows e seminários também fazem parte do rol de modos de comunicação.
Não se quer os meios para mediar as relações, processo crescente no mundo da informação. O mundo do conhecimento propõe justamente o contrário. Apropriar-se dos meios, concebê-los, compreendê-los para poder manejar os códigos: códigos sociais, códigos dos direitos, códigos da democracia, do meio ambiente, por fim da(s) tecnologia(s).
Para a compreensão do domínio do código e para poder extrapolar o horizonte desenhado pelas “novas tecnologias” pôde-se perceber que o termo “nova” deve ser eliminado da frente das tecnologias para que as iniciativas dos labs não caiam na cilada de criar mais uma disciplina, mais uma cooptação, mais uma especialidade, mais uma classe distinta de pessoas e mais uma forma de diferenciação, de hierarquias e de nichos, por final, de consumo.
Labsurlab estava pelas tecnologias: tecnologias sociais. Ter os meios para servir aos homens/mulheres, para criar auto representações, potencias não mediadas e que não tendam `a homogeneização dos imaginários. Tal homogeneização são fortemente responsáveis pela alienação e imobilidade social.
Os Laboratórios são espaços interdisciplinares pela própria natureza da rede, espaços para o erro, para o discurso, para o exercício da cidadania. Funcionam na rede eletrônica e no plano real.
A era da informação nos apresenta dois desafios, pois atualmente muito tem-se feito para minar antigos e desejáveis paradigmas de liberdade de expressão e compartilhamento de idéias: Lei Hadopi na França, Lei Sinde na Espanha, Lei Azeredo no Brasil, Lei Lleres na Colômbia e todas circundadas pelo fantasma ACTA do “Tio SAM”.
Primeiramente compreender que a rede deve ser tratada como um espaço público. Uns objetarão dizendo que existe muito capital privado lá investido. Porém o nascimento e desenvolvimento da camada física da rede possui fortes investimentos estatais. Quando foi aberta ao comércio, as empresas nada mais fizeram do que, como no mundo real, usarem os recursos da riqueza das redes, o potencial de troca de informação e claro sua infra-estrutura.
Por riqueza das redes queremos dizer que existe e circula lá uma produção social e, por ser social, é também de domínio público uma vez que um volume representativo do que circula na rede vem das pontas, dos terminais/computadores de pessoas físicas.
Nos início dos anos 80 a estética e modelo “portal” de conteúdo foi tido como o modelo que as empresas deviam operar na rede. Concebidos como mais um meio de comunicação unidirecional. Pois perderam eles o controle com a explosão dos blogs, comunidades, enfim a web permitia gerenciar diversos aplicativos multimídia e ter um servidor deixou de ser exclusivo de grandes coorporações .
Mesmo as redes sociais com seus modelos centralizados (redes dentro de redes) permitiram a “alfabetização” de muitos quando se trata de navegação na internet. Ou seja, passamos da rede descentralizadas para a distribuída/compartilhada `a exemplos das p2p.
A Internet é um grande espaço público de múltiplas frentes de mediação. Empresas não podem legislar sobre estes espaços assim como não podem interferir na plataforma “mesa de bar”: aqui e ali a comunicação, as idéias, as citações, os arranjos circulam livremente, manejando códigos lingüísticos e culturais. A diferença da rede é que como meio eletrônico possibilita o registro das mesmas idéias, citações, etc.
É sobre este registro que as empresas investem seus esforços: dominar e limitar o trânsito do intangível que são delineados por frações velozes de intermitências elétricas: os dados.
No plano real, fora do registro eletrônico, a metáfora da rede possibilita `a sociedade um retorno às antigas práticas e ideais de organização humana: comunidades, federações, democracia, compartilhamento, assembléia, a praça. Almejemos uma nova Ágora.
Os laboratórios permitem e criam espaços de encontro e debate. Não estão em oposição às universidades, às antigas estruturas de ensino. São novos espaços de exercício da cidadania onde se pode beber da produção e do conhecimento social. Apenas por este motivo já se poderiam propor e planejar políticas públicas com esse modelo de encontro. E que sejam nômades e perenes.
Sim nós temos os meios, e tê-los é um exercício de poder.
Das comunidades
Os Laboratórios também permitem reavaliar antigos paradigmas de comunidade que geralmente produzem discursos de oposição entre nós/eles. O que se propõe é pensar as comunidades de modo "hiperlocal". Cada unidade de identidades ou entidades pode com seu saber multiplicar os modos e práticas como nos relacionamos com o mundo. Quais as soluções, que código operam, quais tecnologias desenvolvem para solucionar ou mesmo criar outros problemas. Os laboratórios são espaços permeáveis. LabsurLab valorizou este tema: tinha ali representadas as várias entidades sociais. A diversidade está deste modo dentro e fora da cidade: comunidades rurais, indígenas, comunidades de hackers, de ativistas, de músicos, de políticos.
Comunidade não pode ser pensada e pensar-se isoladamente, entedendo-se sob a ótica do “hiperlocal” passam a fazer parte de um fluxo e da idéia de interdependência. Os velhos discursos de transformação social sob a perspectiva dos movimentos independentes já soam como discursos românticos, porque não “egóicos”.
Rede é pensar “interdependência”: interdependizar-se!. Tratamos agora de escolher nossas redes de dependência. Compreender as relações, conciliar interesses. Dependências estratégicas para compor redes alternativas de ação e reflexão social. Os centros de poder já operam com esta lógica há tempos, já dominam e a põe à serviço de interesses particulares pouco permeáveis `a idéia de pró-comum, regidos não pela lógica cultural, mas financeira. Temos agora uma possibilidade de “darles la vuelta”!
Interdependizar-se é responsabilizar-se com o próximo, ser responsável por suas escolhas. A rede é uma cadeia de tensões e contradições. Avancemos sobre este terreno pois a criação reside no erro.
LabsurLab, como o emblemático MedialabPrado, não está envolvido com indústrias culturais ou economia criativa. Também não estão em direta oposição mas coompreendem que estes domínios – estas redes - são de natureza mercadológica, econômica e que possuem a balança pendendo mais para este lado.
Os laboratórios aqui em questão são espaços públicos, onde, mesmo dentro da estrutura estatal, acolhe as críticas e discursos antipáticos `as velhas estruturas de poder.
Labsurlab de certa forma coloca que qualquer encontro é um lab e tendo os meios pode-se potencializar certas práticas sociais: mais que esvaziar o poder, uma intenção de hackear o poder, tentando garantir espaços de livre produção e expressão do conhecimento.
Hacia los labs!!!